Tuesday, 30 June 2009

Pináculo da felicidade

Esse é mais um post sobre minha ida a Lübeck. Estava guardando esse para o final, pois é o mais importante. No entanto, tenho andado muito ocupado no trabalho e curtindo o verãozaço britânico. Hoje fez uns 30 graus e já tem gente caindo pra trás.

Cerveja no. 23 - Brauberger Keller
Brauberger Brauerei - Lübeck - Alemanha

Eis o relato do segundo dia em que fomos a essa cervejaria caseira: era uma segunda-feira e nosso avião saía naquele dia para Londres. Chegamos às 5 da tarde em ponto, pois era a hora que o lugar abria. Pedi uma cerveja. Tomei como se fosse um suquinho. Pensei: esses caras estão me enganando. Essa cerveja não tem álcool. Pedi mais outra. Quando veio a terceira, perguntei à garçonete: qual é a porcentagem de álcool dessa cerveja? Ela me respondeu, com a sutil delicadeza de quem está com pressa: Vier komma Acht Prozent (4,8%). Somente na metade do quarto copo é que comecei a me sentir tonto.


Bebidas boas não deixam transparecer o gosto do álcool. É o caso do Royal Salute, ou mesmo uma cachaça das boas, ou um bom vinho reserva.

Mas vamos o que interessa, que é a ocasião cervejística. Comecemos pelo prato: uma ótima batatinha com chucrute e porco:

Nada de especial para os padrões locais, pois esse é uma lugar para beber, e não para comer. Mas confesso que essa comidinha caiu bem. A foto abaixo mostra um pouco do ambiente do bar, e dá para percerber que o pessoal realmente não está muito interessado em comida:

Essa foto a garçonete tirou. Armou uma quizumba para se posicionar sentada à mesa do lado. O casal que lá estava nos achou engraçados, e deram até tchau quando foram embora.

As duas fotos abaixos são de um caldeirão em que eles fazem (ou faziam?) sua cerveja:

Nessa aqui dá pra ver melhor uma pintura na parede:

Aqui é o porão, ou Keller. Abaixo é um instrumento medieval de fabricação de cerveja:

Medieval???? SIM !!!! MEDIEVAL !!!! ESSE PORÃO FOI CONSTRUÍDO EM 1225 !!!!!

Aqui foi no segundo dia a que me referia no início do post:

Uma cara meio de acabado... uns 4 quilos mais gordo....
... mas uma felicidade inabalável !!!

Os motivos abaixo estão nos vidros da cervejaria:
Achei bem interessante. Quem se senta para beber não nota.
Viva a arte em torno da cerveja!!!

E QUE CERVEJA !!!! MELHOR DO MUNDO !!!! Suave, aveludada, gentil e hospitaleira. Está longe de uma rabugenta e complexa ale inglesa. Mas ainda assim é rica. No primeiro dia, logo na entrada, dois rapazes já mais pra lá do que pra cá me indicavam: Bestes Bier Lübeckes (melhor cerveja de Lübeck).

No vídeo abaixo dá para se ter idéia do ambiente da cervejaria:



É um ambiente meio escuro e sinistro.... mas atrai clientes às 5 da tarde de segunda-feira. Ou será que eles lá se apresentam pelo simples fato de serem alemães?

Monday, 22 June 2009

Na falta de Keller...

Lübeck é mesmo uma cidade fantástica. Tão singela e agradável que até marcamos nosso retorno para setembro.

Este é o Holstentor, que fica na entrada da cidade velha. Pra quem adorava o de Gramado, era hora de rever os conceitos sobre pórticos:


É mesmo de se ficar embasbacado:
...como nessa vista do portão na extremidade oposta à do pórtico:

Cerveja no. 22: Duckstein
Dusckestein Brewery - Áustria

Logo que chegamos a Lübeck, o primeiro lugar que me atraiu foi... uma padaria. Mas tudo bem, era de se perdoar, pois era de manhã e estávamos com fome. Após deixarmos nossas coisas no hotel, voltamos à cidade e aí sim pude observar que algumas pessoas se reuniam nessa praça, buscando um lugar ao sol.

Ora se não era a famosa adega da prefeitura de Lübeck, cuja fama ainda não havia me alcançado. Sentei-me e logo fui pedindo uma Keller Bier. Pedi com cuidado, tipo: o senhor teria, por acaso, uma Keller Bier? É lógico que somente casas mais requintadas têm esse tipo de cerveja local. O garçon, muito educado, me respondeu que não, mas poderia me trazer essa Duckstein:

Ele havia pescado meu recado: sabia que estava à sua frente um exímio degustador de cervejas (digo degustador, e não entendedor - a diferença é tênue, mas existe), e me sugeriu essa cerveja com corpo extremamente requintado, aroma floral e com a destreza de um exímio esgrimista.

Só agora, por minha surpresa, vejo que é produzida na Áustria.

Os alemães bebiam em sua maioria cervejas do tipo pilsener (como Kölscher). O dia quente até era propício a esse tipo de cerveja, mas para minha pilseners são cervejas... para a maioria, mesmo.

Notei que alguns poucos alemães - esses sim entendedores - empunhavam similares copázios contendo precioso líquido de tonalidade rubra.

Até minha senhora se deleitou com tamanha generosidade divina:

A foto abaixo foi tirada num restaurante à noite:E já que mencionei padaria no início desse post, eis o tipo de maravilhas que tais milenares estabelecimentos escondem:
No alto à direita a minha delícia preferido: Kirschschneke, um tipo de cuca de açúcar com recheio de Erdberren (algo como framboesa?).

E para os cariocas que não sabem o que é uma cuca de açúcar, sugiro que peçam uma em sua próxima viagem ao sul do país.

Thursday, 18 June 2009

Do jeito que o diabo gosta

Quando as primeiras pedras da igreja de Santa Maria foram assentadas o diabo acreditou que essa construção fosse ser um bar. Ele gostou da idéia, porque frequentemente muitas almas já tinham chegado a ele depois de visitar tais lugares. Então ele se misturou com a multidão e começou a ajudar os trabalhadores. Por isso a construção cresceu cada vez mais e mais, incrivelmente rápido.


Mas um dia o diabo se deu conta do que a construção realmente seria. Cheio de raiva ele pegou uma imensa rocha para destruir as paredes que já estavam erguidas. Ele já estava voando perto quando um camarada gritou pra ele: "Pare Sr. Diabo! Deixe o que já foi construído, que nós construiremos um bar aqui na vizinhança para o Sr.". O diabo ficou muito satisfeito com a idéia. Ele largou a rocha ao lado da parede, onde está até hoje. Ainda dá pra ver as marcas de suas garras na pedra.
E logo em frente à Igreja os trabalhadores construíram a adega de vinho da prefeitura.

Escultura de Ro f Flores, escultor de Lübeck 1999.

Essa é a adega da prefeitura:
E esse é Romeu F Flores, sentado a uma mesa da adega, tomando uma cervejota, num dia ensolarado, do jeito que o diabo gosta.

Aqui uma obra de arte de minha senhora, que incentiva o blogueiro que há em mim (mas não o bêbado):

Cerveja nr. 21: Franziskaner Hefe Dunkel
Franziskaner Brewery - Münich - Alemanha

Ao degustar essa cerveja, meu paladar já havia sido aguçado por outra que será objeto de eu próximo post. Cervejas mais fortes devem ser degustadas após cervejas mais fracas, e é isso que normalmente faço.

A foto, por mais perfeita que seja, jamais traduzirá o prazer de estar sentado em um Biergarten alemão, olhando para essa magnífica arquitetura gótica de tijolos pretos. Essa praça central é fantástica. Olho a minha volta e só vejo beleza.

Olho para cima e observo líquido grafite adentrando meu ser. Essa é mais uma cerveja com impurezas - Hefe Weissbier (o garçon pronunciou rife), porém escura.

Abaixo a Carinete na parte de dentro do restaurante, que fica no subsolo ou porão, que é Keller em alemão, cellar em inglês - anteriormente traduzi wine cellar como adega de vinho, mas seria um porão de vinho.
Assim, concluo que Carina está sentada no lugar preferido do nefastoso.

Depois de tanta alegria, voltei para agradecer a meu amiguinho:

Afinal de contas, se não fosse ele, não existiria tal lugar.

Ele então me levou para conhecer o interior da igreja, onde vi um sino partido no chão:
Esse sino aí está em função de um bombardeio de meus compatriotas britânicos na segunda guerra. Quando a Alemanha foi recontruída, algumas coisas derrubadas foram deixadas no lugar, para lembrar as coisas feias que os nazistas fizeram, e para que ninguém faça de novo.


É uma história triste, mas triste para os dois lados.



Tuesday, 16 June 2009

O retorno

Acabo de chegar de minha viagem de negócios. Passamos um fim de semana estendido em Lübeck, na Alemanha, coletando material de pesquisa. A foto abaixo mostra o saudável estilo de vida desses senhores de cabelo amarelo:

Haja suquinho...

Chegamos hoje às 3 da manhã, tendo que ir trabalhar às 9. Fiz muito isso quando ia pra Búzios. Esse fim de semana nossa Búzios foi a terra do marzipan.

Wednesday, 10 June 2009

Über alles... Deutschland

Para apresentar a próxima cerveja, que vem da Bavária, comecei a vasculhar fotos antigas da Alemanha. Achei essas de Nuremberg, que tirei em 2005 e, para minha surpresa, descobri uma pérola que eu não sabia que existia. Uma foto de uma cerveja local !!!!! Assim, vou apresentar duas cervejas nesse post.

Essas fotos são foram tiradas do castelo, que fica no alto de um morro.
Nürnberg é a cidade que mais gostamos na Alemanha.

Importante ressaltar que só coloco fotos nesse blog que foram por mim tiradas. A paisagem seguinte é um cartão postal da cidade que transpassou as lentes de minha objetiva.

O interessante da Europa é que o que há de belo foi construído pelo homem e pelo homem é mantido. O Brasil tem uma beleza estonteante, mas é uma beleza natural, ou feita por Deus...

... e que o homem destrói.

Cerveja no. 19 - Andechs Doppelbock Dunkel.

Andechs Monastery - Alemanha.



O que se esperar de uma dupla bock? Pura emoção. Tradição germânica aliada a força bruta. Porém, há uma graciosidade inexistente nas arrogantes ales inglesas que dá um requinte especial a essa aqui. Minha esposa recomendou que eu usasse mais peças cor de rosa para atenuar meus traços masculinos. Pois é o que essa cerveja é: um gaúcho de ceroulas rosas !!!

Cerveja no. 20 - Barfüsser

Barfüsser Hasubrauerei - Nuremberg, Alemanha


Chegamos a Nuremberg, que fica no sul da Alemanha, vindos do norte da Bélgica (Antuérpia). Foi uma viagem de 7 horas, parando em Frankfurt e trocando de trem. No entanto, foi uma das viagens mais agradáveis que fizemos, pois de trem dá para apreciar a paisagem. Passamos por Colônia e vimos uma multidão que ali se aglomerava para a visita do recém empossado Papa.

A cerveja belga, apesar de complexa, é aromatizada, frutada, gentil e brincalhona. É de um requinte que satisfaz os mais sábios apreciadores de vinho. Depois de alguns dias degustando essa que considero a melhor do mundo, me sentei nesse Barfüsser e pedi ao garçom uma cerveja, que chegou falando de imediato: veja bem, isso que é cerveja de homem. Me deu dois tapas na cara, e finalmente expandiu seu sabor em minh'alma.

A foto acima é de uma cerveja de trigo, mas a cerveja a que me refiro nesse texto é uma escura, da mesma casa. Foi pura emoção.


Alemanha.
Cerveja.
Caseira.


Finalmente, acho bom ter postado essas duas cervejas pois nesse final de semana estarei viajando a negócios. Portanto, sem posts até próxima quarta...

Alma inglesa

Alguém que veio a Londres algum dia retornou com fotos desse tipo?

Isso é Londres !!! Mais especificamente Richmond. Essa paisagem da foto acima é uma das que mais me agrada nesse país. E isso que que conheço pouco, e muito mais me aguarda.

Estou aqui em busca da essência desse país, da alma inglesa que outrora permeou essas pastagens.

Os cavalinhos atrás da Carina são utilizados por jogadores de pólo (com acento?) , tradicional esporte da nobreza britânica. E por falar em nobreza, após passarmos por aquele matinho e por trás do campo de pólo nos deparamos com a maravilha abaixo:
A Ham House é uma casa de nobres doada ao patrimônio britânico. As pessoas ficam ricas para construir obras desse tipo, e depois precisam de mais dinheiro para manter. Como não têm, passam adiante. Quem lucra no final somos nós, zé povão, que temos acesso a essas obras primas. Quem dera meu outro país fosse assim.

Detalhe: é caro pra entrar (£ 9.90 por pessoa) e por isso ficamos do lado de fora. Mas com esse dinheiro a casa é conservada. Simples, não?

No final de tão longa caminhada, um pintzinho no Cricketer que ninguém é de ferro....


Cerveja no. 18 - Chimera Dark Delight

Downtown Brewery, Wiltshire, Inglaterra.

Excelente! Forte, resiliente e nem um pouco singela, porém totalmente despida de arrogância.
"Chimera é uma besta mística que é uma combinação de leão, bode e cobra. Dark Delight é uma complexa ale escura que combina sabores sutis de café e chocolate com um rico aroma de lúpulo". Eu confesso que não detectei sabor de chocolate. Talvez tenha sido absorvido pelo gosto de café.
Mas mesmo que cortem a cabeça do bode, ainda assim continua uma besta !!!!!

Sunday, 7 June 2009

Velhos amigos se encontram no topo do mundo...

A vida nos afasta, nossos interesses podem divergir, mas é sempre bom encontrar velhos amigos. Podemos trocar de mulher, mas amigos são sempre amigos.

Essa semana tivemos a honra da presença de DDDécio (vulgo Gustavo Estrella), que viajava a trabalho. Por mais que eu insistisse em mostrar os encantos dos pubs londrinos, fui voto vencido a favor de uma cervejinha na cobertura de Victer com vista para o Big Ben.
A foto acima foi tirada em um momento de empolgação, que aconteceu quando abri a Ale que apresentarei hoje.

Existem diferenças ululantes entre uma amizade feminina e uma masculina. Mostrei meu blog a esses cidadãos, que nem deram a mínima. Aí abri uma típica Ale inglesa e ofereci ao Décio, que falou: "que porcaria. Hahahaha". Também, não dá pra esperar bom gosto de um cara que gosta de música baiana. Quanto à amizade feminina: já viu uma mulher falar para a outra que seu vestido está horrível?

Cerveja no. 17: Duchy Originals Organic Select Ale

A foto da cerveja está um pouco escura para realçar o Big Ben ao fundo.

Inaugurada pelo príncipe Charles para promover produtos orgânicos, essa Ale certamente não está ao nível de lambadeiros. Esse é um exemplo de cervejas de larga produção que podem ser saborosas. Não é ale sabão, tem caráter e requinte necessários para colocá-la, se não entre as mais distintas ales, entre uma boa opção de compra nas prateleiras do mercado.

De mais, só lamento os amigos de estupendo sucesso profissional que não aprenderam a aprimorar seu gosto. E finalmente, palmas para as chicken fajitas preparadas pelo anfitrião.

Friday, 5 June 2009

Beberagem a trabalho

Esse foi um interessante dia de treinamento.
Acordo cedo, pego um táxi, vou para o escritório. Tenho um dia produtivo, pois absorvi não só os conhecimentos técnicos que meu colega estava a me passar, mas também tive uma prazeirosa discussão com os desenvolvedores da ferramenta a que presto suporte. Pelo menos prazeirosa pra mim, porque criticar o trabalho dos outros é muito fácil.
Ao meio dia almóço com o presidente da empresa (não sou uma pessoa tão importante assim - a empresa é que é relativamente pequena), e logo após retórno às atividades técnicas que são o filão de minha vida profissional.

(os acento diferenciais em "almóço" e "retórno" foram por mim inventados em protesto contra a reforma ortográfica - a frase acima lida sem esses acentos que nem existem já fica dfiícil, e eles ainda tiram o acento de "pára").
 

Encerramos as atividades do dia, volto ao hotel e logo meus colegas passam para me pegar para uma cervejinha. Tento chegar ao seu carro, e quase sou atropelado por uma bicicleta em uma ciclovia. É quando me dou conta:

UMA CICLOVIA ??????????????????????????
ESTOU NA ALEMANHA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
E VOU SAIR PRA BEBER COM A ALEMÃOZADA


Foi um dos dias mais felizes da minha vida. Sentamos nesse típico restaurante bávaro em Munique, onde tomamos cerveja com Schnapps (a cachaça deles):
 
Cerveja no. 16 - Keller Bier
Hacker-Pschorr - Munique - Alemanha.

Ein wunderschönes Bier. A emoção de beber uma cerveja que foi "feita no porão" é muito grande, apesar dela não ter sido realmente fabricada nesse restaurante. Essa foi um achado, e dei sorte de ter essa rapaziada local que me levou para o lugar certo. Pela cor do copo e pela espuma dá para perceber a abundante riqueza, o espírito alemão, a simpatia bávara que fica incrustada nas impurezas preservadas pelo processo de fermentação não filtrado.

A Alemanha é definitivamente a terra da cerveja, e me delicio a cada visita em que posso encontrar a cerveja local de pequena produção. Essa é até produzida em maior escala, mas é uma das melhores que já bebi. Ou será que foi a emoção da presença ariana?